EDITORIAL DO 3º CICLO LIDERMS IV

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Realizado nos dias 3 e 4 de fevereiro em Corumbá, quando os
participantes locais nos receberam calorosamente bem, inclusive oferecendo
um clima ameno e agradável durante a realização do evento, o 3º Ciclo do
Programa LIDERMS IV tratou dos cursos do programa, dos projetos
associativos dos participantes e de recomendadas atitudes que devem
caracterizar a atuação de líderes associativos frente a ambientes políticos
plurais.
Inicialmente o Renato Roscoe nos mostrou, em sua apresentação sobre
os componentes da Estratégia ESG de Negócios que ela é, de fato, uma
excelente oportunidade para as unidades produtivas do agronegócio, em vez
de ser considerada como um conjunto adicional de custos exigidos das suas
unidades produtivas. Ele enfatizou que além disso, as lideranças do agro
nacional têm que ficar atentas à “pegadinha” que os nossos concorrentes
internacionais estão nos empurrando para cairmos nela. Um exemplo ilustra
bem a armadilha que as lideranças do agro brasileiro precisam evitar, embora a
imprensa e inúmeras autoridades internacionais estejam pressionando pela sua
adoção: eles, continuamente, pressionam as autoridades brasileiras para que o
País adote a restrição legal equivalente ao desmatamento zero em toda a área
da Amazônia.
Qual é a pegadinha implícita na adoção legal, pelo País, do
desmatamento zero? Ora, o Código Florestal Brasileiro já estipula que 80% da
área das propriedades rurais da região deve ser mantida com sua vegetação
nativa. Por outro lado, as regras dos Fundos Internacionais de Créditos de
Carbono não permitem pleitos de remuneração ao que legalmente já é exigido,
ou precisa ser preservado por lei. Assim, se o Brasil transformar em lei uma
política de desmatamento zero na Amazônia, impedindo o aproveitamento,
atualmente legalizado de 20% da área das propriedades, os agricultores
perderão o direito de serem recompensados pela manutenção destas áreas
com sua vegetação nativa. Não poderão pleitear o correspondente crédito de
carbono pelas oportunidades perdidas de exploração daquelas áreas. É preciso
lembrar que uma parte importante dos mais de 20 milhões de habitantes que lá
vivem e que vieram povoar a Amazônia desde a segunda metade do século
passado, fizeram-no atendendo ao apelo geopolítico de autoridades que viam
ameaças à soberania nacional em avanços e iniciativas de diversas naturezas
e em muitas partes do mundo, especialmente em países desenvolvidos que
agora clamam pela manutenção intocada da região.
As apresentações da Vania Guimarães trataram, fundamentalmente, de
mostrar como as variáveis macroeconômicas relevantes, tais como a taxa de
juros, a inflação, o nível de emprego e a taxa de câmbio, estão todas
interconectadas em um complexo sistema de equações que precisam ser
analisadas simultaneamente para que seus equilíbrios possam ser estudados.
Ela mostrou, por exemplo, que no mercado de produto, onde o PIB é
determinado, existem efeitos da renda disponível das famílias, do nível de
preços (inflação), da taxa de juros, dos gastos dos governos e da taxa de
câmbio; por outro lado, estas mesmas variáveis afetam, e são afetadas, por
políticas monetárias, determinadas no mercado de dinheiro e por políticas
fiscais, determinadas pelos gastos e recebimentos dos governos. A política
cambial é, por sua vez, também muito importante na determinação das
variáveis macroeconômicas mencionadas.
A simultaneidade dos efeitos das diferentes variáveis torna complexas as
análises de seus níveis de equilíbrios. Por isto os palpites simplórios sobre
níveis de variáveis econômicas precisam ser evitados por lideranças
responsáveis. A sugestão de alguns políticos populistas de que o Banco
Central do Brasil deveria baixar os juros para aumentar o crédito e,
consequentemente, aumentar as rendas e o emprego no País, mesmo
sabendo que a política fiscal continuará expansionista, refletida nos altos
gastos dos governos, é irresponsável porque ignora seus efeitos perversos,
sendo a inflação o principal deles. A inflação, que os populistas dizem que pode
ser um pouco maior, é altamente seletiva, impondo aos pobres a carga maior
dos seus pesados custos sociais. Forçar a baixa dos juros agora, mantendo a
expansão dos gastos governamentais, equivale a mandar para os mais pobres
a conta da irresponsabilidade da atitude populista!
As ponderadas considerações dos Srs. Presidente da FAMASUL e do
Superintendente do SENAR-MS mostraram aos participantes do programa que
atitudes extremadas geralmente resultam em prejuízos aos propósitos maiores
que devem perseguir os verdadeiros defensores da democracia. Na
oportunidade da apresentação do Presidente da Famasul, foi lembrada a frase
famosa de José Ingenieros, importante médico e filósofo ítalo-argentino,
segundo a qual
‘o ideal sem estudos não é ideal, é fanatismo!’
Foi, ainda, citada a exortação de Winston Churchill à pacificação dos grupos
sociais, como descrita por Niall Ferguson em seu livro intitulado “Civilização: o
ocidente e o resto do mundo”:
‘Churchill capturou um ponto crucial quando definiu o “princípio central da civilização
[ocidental]” como “a subordinação da classe dominante aos costumes estabelecidos do
povo e à sua vontade, conforme expresso na Constituição”: Por que [Churchill
perguntou] as nações não deveriam se unir em um sistema maior e estabelecer um
estado de direito para o benefício de todos? Essa certamente é a esperança suprema
pela qual devemos ser inspirados… Mas é inútil imaginar que a mera declaração de
princípios corretos será de qualquer valor, a menos que seja apoiada por aquelas
qualidades de virtude cívica e coragem viril – sim, e por aqueles instrumentos e
agências de força e ciência que, em última instância, deve ser a defesa do direito e da
razão. A civilização não durará, a liberdade não sobreviverá, a paz não será mantida, a
menos que uma grande maioria da humanidade se una para defendê-los e mostrar-se
possuída de um poder policial diante do qual as forças bárbaras e atávicas ficarão
submetidas”.
Ainda citando Churchill, Ferguson mostra que
“Significa uma sociedade baseada na opinião dos civis. Significa que a violência, o
governo de guerreiros e chefes despóticos, as condições das dominações e da guerra,
da revolta e da tirania, dão lugar aos parlamentos onde as leis são feitas, e a tribunais
de justiça independentes nos quais por longos períodos essas leis são mantidas. Essa
é a Civilização – e em seu solo crescem continuamente a liberdade, o conforto e a
cultura. Quando a civilização reina em qualquer país, uma vida mais ampla e menos
atormentada é concedida às massas do povo. As tradições do passado são prezadas e
a herança que nos foi legada por antigos sábios ou valentes líderes torna-se uma rica
propriedade a ser desfrutada e usada por todos. O princípio central da civilização é a
subordinação da classe dominante aos costumes estabelecidos do povo e à sua
vontade, conforme expressa na Constituição”.
Enfim, os depoimentos do Presidente Marcelo Bertoni e de Lucas Galvan,
Superintendente do Senar-MS, trouxeram aos participantes do LIDERMS IV a
certeza de que as lideranças do agro do Estado estão trabalhando na
construção de um setor responsável e disposto a desempenhar o importante
papel que a sociedade brasileira espera de seus agricultores e dos demais
componentes do seu agronegócio.
A tarde da sexta feira foi dedicada aos trabalhos dos participantes na
elaboração de seus projetos que deverão incluir as perspectivas estratégicas
de suas visões e as correspondentes mobilizações dos recursos, especialmente
dos humanos, na implementação dos planos de negócios associativos que
cada um deverá desenhar e implantar durante sua participação no LIDERMS
IV. Alguns voluntários apresentaram suas visões e receberam dos colegas e
professores sugestões sobre aperfeiçoamentos e melhorias nas explicitações
de suas futuras ações associativas.
Foi enfatizado que a primeira parte do trabalho deve corresponder à
descrição da situação problema que o participante quer enfrentar em seu
ambiente de vida/trabalho e, ao mesmo tempo, deve indicar o grupo específico
com o qual espera mobilizar para juntos – ou associativamente – atacar a
situação problemática indicada. O pragmatismo que caracteriza a maioria de
nós torna difícil seguir a disciplina de primeiro indicar o problema para depois
enfrentá-lo. Em geral, em vez de descrever o problema tendemos a apresentar
nossas ações pretendidas, deixando implícita a situação problemática.
Conduzidas por Jose Roberto Canziani, foi indicado que o trabalho que cada
participante deverá desenvolver no período entre o 3º ciclo do programa e o final
do mês de março deverá conter a descrição da situação problema e os
membros do grupo que será inicialmente mobilizado. Os escritos a serem
encaminhados aos coordenadores dos respectivos grupos bases não deverão
contemplar ações a serem desenvolvidas; elas deverão ser explicitadas em
fases posteriores dos trabalhos individuais. Em outras palavras, não escreva,
agora, o que você pretende fazer; indique que problema quer enfrentar e com
quem pretende trabalhar – quem irá mobilizar – para resolver o problema
diagnosticado!
Giselda Hironaka continuou mostrando o que é comodato e suas
características e diferenças de outros instrumentos jurídicos. Como o tópico é
altamente relevante, uma vez que nas empresas familiares a prática é muito
utilizada em substituição a outros institutos, como o arrendamento e a parceria,
os questionamentos dos participantes foram intensos e as discussões muito
elucidativas. Estamos todos ansiosos pelos próximos esclarecimentos sobre os
outros instrumentos juridicamente disponíveis para aumentar os usos eficientes
da terra e dos demais capitais (físicos, financeiros, humanos e sociais) que as
famílias comandam ou controlam.
Antes da assembleia que revisou todo o conteúdo do ciclo, com
sugestões para o aprimoramento dos próximos, Fernando Peres mostrou uma
linha do tempo com indicações das principais fases econômicas que
caracterizaram os períodos do Brasil Colônia e do Império. Na oportunidade
salientou as duas falácias que por razões ideológicas marcam nosso ensino de
História do Brasil: (i) a ênfase numa suposta formação de estrutura agrária que
favoreceu o latifúndio, ignorando o fato histórico de que a marcação, ou
ocupação, por “posse” foi a principal maneira de delimitação de propriedades
rurais do nosso território nos primeiros três séculos desde o descobrimento; e
(ii) a ênfase na interpretação, de origem marxista, de que a exploração dos
trabalhadores ocorreu, no período, por conta da posse da terra que se baseou
no latifúndio. Segundo aquela interpretação, derivada do conceito marxista de
‘mais valia’, a exploração dos trabalhadores teria acontecido, ao longo de
nossa história, pela posse da terra na mão dos agricultores latifundiários. São
conceitos errados e eivados de uma perversa carga ideológica, mas que
continuam sendo ensinados nas nossas escolas.
Esperamos nos encontrar novamente em 31 de março e 1º de abril em
Campo Grande, para o 4º ciclo do LIDERM SIV que versará sobre “A educação
no País”. Até lá!


Fernando Curi Peres
José Roberto Canziani
Renato Roscoe
Vania D’Addario Guimarães
Giselda M.N. Hironaka

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